domingo, 26 de julho de 2009

Ah, a modernidade.

Estou lendo o livro de Ruy Castro, Chega de Saudade. Enquanto passo certas horas trancada no quarto, numa reclusão por vontade própria, vou me envolvendo numa época que eu, particularmente, acho sensacional. Não que eu ache que estou na época errada (tá, eu acho, mas não sofro com isso), é só que, como já cansei de dizer por aqui, não acredito em todas as coisas que a juventude da minha época acredita. Como sempre, enquanto cantarolo as músicas de João Gilberto em Minha Cabeça, ou as de Tom Jobim, ou as de Vinícius, alguém me rersmunga para que eu transfira para os meus desenhos as músicas que todo mundo conhece. Vivo numa época onde ser boêmio é, na verdade, sair enlouquecidamente drogado e bêbado, arregassando carros e trepando adoidadamente.
Talvez essa seja uma das minhas razões para o cansaço. Não tenho mais tanto convívio social, aliás, resigno-me ao convívio suficiente do trabalho do dia-a-dia, porque é quase obrigatório. Permaneci com poucos amigos, com quem falo sempre, mas que vejo esporadicamente. É que me cansam as regras sociais de convívio: você não pode falar alto, não pode dizer o que está pensando e, de quebra, no mundinho em que convivo, tem que se fingir um exímio conhecedor das porcarias clássicas, sejam do terror, da comédia, do jornalismo, do rock, de qualquer caralho que apareça. Haverá um clássico de escândalos políticos que eu não deva saber? Ah, minha memória precisa acalentar as coisas do trabalho, que me ocupam um espaço tremendo na cabeça, os afazeres de final de graduação, as coisas dos meus projetos, as regras de convivência com os outros seres humanos...é muito cansativo viver em sociedade.
Muito engraçado que, depois da atomink, comecei a gostar muito mais de conviver comigo mesma. Sentar no meu quarto, assistir friends e costurar até deus sabe que horas, depois ler um bocado e, finalmente, dormir. Não faço questão de sair com quem quer que seja, que já não conheça há, pelo menos, uns dois anos, para não me dar o trabalho das piadinhas de sociabilidade e de reconhecimento, das perguntas de "onde você é", "pra onde vai". Quanto aos homens, continuo, modéstia a parte, bem sucedida no que diz respeito aos affairs. O problema é que não tenho mais paciência, nenhuma, quase, para aturar o convercê que antecede as reais intenções do rapaz. Aliás, não tenho paciência para ouvir "nossa, você tem olhos lindos" ou "como é que a gente faz para se conhecer"?
Conhecer, para mim, nos dias atuais, significa conhecer novos parceiros de trabalho, alguém com quem eu não precise "puxar conversa". Estou farta dos homens que acham que podem conquistar até um tapete com aquelas cantadinhas patéticas: "e aí? eu queria conhecer você melhor" ou "vamos ficar mais à vontade?". Posso dizer: já ouvi isso umas vinte vezes, senão mais, este ano. Atualmente, como já sei quais pérolas vão aparecer, desconverso. Me contento com a diversão de prender o olhar do rapaz, porque eles não resistem a uma boa olhada, é engraçado; começam a gritar por seu telefone. O que, obviamente, eu finjo não ver.
Não posso deixar de confessar que vejo pouca graça nas musiquinhas "inovadoras" da minha geração. Confesso também que usar meias listradas era meu hobby antes de se tornar uma coisa cult: eu estava assistindo um clipe novo de Pitty, quando vi lá no fundo da tela umas meninas com os mesmos cortes repicados, meias listradas e blusas fofoletes, dançando. Não acho que precise disso para qualquer coisa, essa asneira começou porque, neste século, não há parâmetros a serem quebrados, a não ser o desespero das pessoas por inovar. Por mim, voltava-se a fazer baiões doidos, sambas que não precisassem necessariamente de cantores descalços no palco (tipo Maria Rita, que quer a todo custo afirmar que faz samba, como uma menina de cabelos escovados tenta provar que seu cabelo já nasceu liso) ou de gente cantando "eu faço samba" ou qualquer coisa metalinguística do tipo.
Pra mim, não muito longe como John Zerzan (se se escrever assim), com aquela história do primitivismo, a salvação da música seria algo assim, como um João Gilberto. Um excêntrico apaixonado por seu violão, que trancava-se no banheiro porque sabia que a acústica de lá era melhor. E saia com melodias espetaculares. Mas ele não usava munhequeiras, moicano ou sobretudo. Era só um excêntrico tocando em boates, fazendo parcerias. Porque todo mundo hoje tem que parecer diferente?
Eu estou com preguiça de fazer tudo isso. De fingir que não falo arrastado, de fingir que sou uma mulher alternativa e que REALMENTE faço questão de andar com a corja culturete do rock baiano, paulista ou de qualquer ebó. Pra mim, do alto dos meus poucos 23 anos, já deu dessa "finjança" toda. Não gosto de Mallu Magalhães não por ela tocar mal, ela é um prodígio, deve ser. Mas por ela insistir em fazer parte dos listradinhos cheios de excentricidades públicas. Não vou com a cara de Marcelo Camelo não por causa dos Hermanos (que também não gosto), mas porque ele se acha tão superior, tão alternativo a não sei que merda, para ficar fazendo faminha na MTV. Minha geração é tão inocente.....acha que está mudando o mundo por cortar o cabelo para parecer eternamente bagunçado, ou por usar all star.
Somos todos uns babacas.