segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

I gotta get out of this black and white town

Cidade em preto e branco. As únicas cores que vejo estão nos desenhos que escolho deixar em preto e branco. A rua não tem mais graça, nem o cheiro de cajá que domina um pedaço da ladeira que desço pra ir pra casa. Tudo perdeu a graça.

Não é uma questão de paixão, nem de falta dela, nem de saudade de ninguém. O problema está em mim, eu estou vazia. De emoções, de lembranças, de tudo. Transbordei tão longe que não sobrou nada. Me restou a caneta, com a qual desenho um universo novo. Estou tão cansada de ser eu, tão cansada de ser alguém, de existir, sabe?
Estou cansada.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Eu vejo o sol pela janela

Abri o livro que revi hoje, depois de um mês na casa do outro, abri aleatoriamente.
"Me impressione", era o título de um texto aleatório. Eu não li o texto, ri alto, gritei com as nuvens num gesto louco de quem procura conversar com alguém que não está aqui, que não se vê, que não existe, talvez.

"Me impressione, porra, é isso, me impressione, porra!"

Estou buscando a paz que não havia encontrado no último mês, arquitetando vinganças inúteis, que não acrescentam nada em minha vida. A minha revista em quadrinhos terá o mesmo tema, mas tenho muito mais histórias para contar que as recentes. Pra mim, hoje, agora, nesta hora, eu quero a tranquilidade que me aquieta a mente quando assumo que sim, cada fantasma tem um pedaço do meu coração. Os mais traumáticos, os menos. E não se trata de esquecer; trata-se de abrir caminho. Como um texto que escrevi, há muitos anos atrás, quando ainda morria de medo das pobres baratas...usei a metáfora para explicar que de perto, todo problema é pequeno, preciso, necessário. De perto, todo problema é nada. É a vida que precisa ser resolvida, que precisa andar pra frente.

Não posso mais olhar pro passado, me questionar por coisas que fiz ou deixei de fazer. A minha vida não vai melhorar por isso. Preciso relaxar, entende? A tensão que é guardar tudo o que sinto, todos os medos, todas as derrotas dentro da minha cabeça...essa tensão não sara nunca, é tatuagem inflamada. E eu me cansei de sentir dor.

Um poema para acabar com a agonia. Um poema para me calar. Umas poucas frases para terminar essa história pra sempre, porque não quero a decepção rondando a minha cabeça nunca mais. Um poema para o fim de tudo.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O dia em que eu surtei (de leve)

- Alô?
- E aí, tudo bem, sou eu!
- Poxa, Lila, como você está?

Eu estou assim, meio doida. Ontem achei umas cartas numa caixa no meu guarda-roupa. Dentro de um dos envelopes, lembrei que guardei uma pétala, do buquê de rosas que um dia ganhei, do cara que um dia me chamou de "amor da minha vida". Naquele envelope, o bilhete também dizia que eu havia "mudado a vida dele".
É isso, é isso o que eu sempre faço. Eu sempre vou chegando, devagar, depois de um tempo recebo a notícia de que "eu mudei a vida de fulano" e, enfim, mais algum tempo se passa até que esse fulano torne-se alguém tão diferente e focado na carreira, centrado e responsável que ele decide que quer ir pra Conchinchina, ajudar o mundo a melhorar.
No final, só resta eu.
Ontem falei com meu ex. Não consigo acreditar que um dia houve tanto amor entre nós. É esquisito, a decepção é uma coisa esquisita. Ela me diz para não acreditar nas coisas que me dizem, nas coisas que me prometem, porque sempre acaba assim: duas pessoas, sem graça, separadas, sem nenhum vestígio daquele buquê de rosas.
Daí eu saí com o rapaz que tem dado uma nova cor aos meus dias. E notei que estou me envolvendo mesmo com ele. A junção das informações do dia me fez surtar: eu não podia, tão cedo, amarrar uma corda no meu pescoço, acreditar em tudo de novo, nem mesmo juntei os pedaços de tudo o que se despedaçou, nem mesmo....
Mas né, é clichê: ninguém manda no coração.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A graça dos dias que passam

Ele pegou o violão, eu não sabia que tocava tão bem. Com aquela voz aveludada e que soa tão bem aos meus ouvidos, começou a tocar "Minha Namorada", de Vinícius. Eu fiquei ali, atenta, para ter certeza de que estava naquele momento mesmo, de que estava, de fato, naquele lugar. Hipnotizada por ter sido surpreendida, pela primeira vez em muitos anos, de um jeito absolutamente encantador: eu não havia provocado nenhuma daquelas palavras, sugerido, nada. Ele simplesmente pegou o violão e foi, tocando, com a mesma precisão com que toca a minha cintura. Não sei o que eu senti naquela hora. Não foi vontade de chorar, como normalmente eu sentiria, mas uma vontade louca de dar um loop naquele momento. Eu estava exatamente onde deveria estar.
Não, eu soube esperar sim. Não quis apressar as coisas, não quis fazer como sempre faço e assumir a postura de uma mulher que toma a frente da situação.
Ontem, ele enfim, tímido, me disse:
- Sinto que você é a minha namorada desde que toquei aquela música para você. Eu toquei aquela música para isso, para te pedir em namoro.
Como nos velhos tempos, em que os homens eram minimamente...românticos.
E lá vou eu, de novo. Posso continuar eu mesma, dessa vez deixei bem claro que sou independente e pronto, que sou assim, não vou mudar.

Lá vou eu, meter-me num emaranhado de novos sentimentos. Com alguém que, em um mês, transformou-me em Dalila.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Who is going to pick up the pieces then?

Tudo o que eu demorei tanto tempo para construir dentro de mim desmoronou em seis dias. Depois de um mês, começo a notar que não há, agora, espaço para ninguém, nem mesmo para o próprio ex. Tenho apreço pelas pessoas, admiro-as, me interesso por elas, mas não as amo, não dedicaria mais que algumas horas a elas. Voltei a curtir a solidão de sentar em frente a tablet e desenhar meus devaneios. Ou assistir a um bom filme. Voltei a apreciar as saídas com os amigos, os amigos que não te abandonam, não importa quantas merdas você faça.

O que eu faria, se eu pudesse voltar no tempo?

Primeiro: talvez não tivesse saído da FUNCEB. Nem ficado noiva. Poderia agora estar comprando meu apê. Mas será que eu estaria desenhando tão diferente de quando comecei? Será que valorizaria tanto morar só e morar com a família?

Será que eu seria quem eu sou hoje? Muito difícil responder.

Eu sei que tudo o que eu vivi teve um propósito: afirmou pra mim que eu posso confiar em poucas pessoas nessa vida, que devo depender apenas de mim mesma. Durante meu último relacionamento, jamais baixei a cabeça. Posso ter tido minhas fraquezas, mas jamais baixei a cabeça. E nunca me arrependerei disso, não abaixarei minha cabeça para ninguém. Pelo contrário: manterei minha posição firme. Sem melindres, sem promessas, sem romance de novela.

O primeiro que vier me prometendo amor eterno voa pela janela.
E é exatamente para não cometer assassinatos, que vou ficar na minha. Se bem que estou saindo com um rapaz muito legal. Mas o negócio vai parar por aí mesmo.