quinta-feira, 9 de julho de 2009

Uma história qualquer.

Hoje me senti com uma imensa vontade de escrever alguma história, qualquer história. Então, lá vai.

Ouvir Gal Costa sempre me fez bem, sabe? Divino Maravilhoso era a música que me gritava aos ouvidos - "fique atento! forte!" - enquanto eu achava que deveria sucumbir às pressões tão bobas do dia a dia. Algumas vezes, por minha baixa estatura, confundia os prédios de São Paulo com gigantes arranha-céus que, a qualquer momento, pisariam em mim; um homem pequeno, enfiado num terno-e-gravata. Odeio essa maldita cidade, ela não acrescenta nada - além de dinheiro - em minha vida.

O pior é quando você sente que não pertence a lugar nenhum. Essa sensação me ocorre algumas..merda! Uma pedra, no meio da calçada da São Bento. Caí, por ter caído em meus devaneios idiotas.

- Posso ajudar?
- Han?
- É que te vi com o olhar meio perdido, sabe? Depois você caiu. Achei que estava morrendo ou coisa assim.
- Querida, você já imaginou que eu estivesse morrendo? Minha cara era tão feia assim?
- Não, erh, desculpe, é que sou exagerada mesmo. Hmm, você está indo pra onde?
- Almoçar, e você?
- Almoçar também. É que pensei...poxa, será que poderia convidá-lo para almoçar comigo?
- Claro, claro, sim, sim....

Andando, até o restaurante preferido de um dos dois...

- Então, no que estava pensando, tão distraído?
- Em como gosto das músicas de Gal Costa.
- Gal? Jura? Ahm, acho que ela anda muito parada agora. Preferia quando ela cantava que era Fatal.
- É, é como o Roberto Carlos. Saiu do Calhambeque pro Quando eeuuu estouuu aquiiii...
- Foi depois que a mulher dele morreu, como era o nome dela?
- Maria alguma coisa.
- Ahmmm. Ele ficou meio doido depois disso. Eu tenho certeza.
- Só usa azul, você viu?
- Engraçado, né, ele começou a aparecer loucamente por causa dos 50 anos de carreira. E Michael Jackson porque fez 50 anos e morreu.
- É, coitado....você acha que esse negócio de 50 anos esse ano é um número cabalístico? Tipo, dá pra apostar em 50?
- Não acredito em Cabala. Eu acho.
- É, nem eu. A Madonna acredita e não envelhece. Será que tem alguma ligação?
- A Madonna deve dormir no Formol.
- Será que ela conhece Formol?
- Você faz o quê da vida, por sinal?
- Eu? Hm, eu danço.
- Onde? Na Rua Augusta?
- O quê?
- Ahhh...eu tava brincando, você disse que meu olhar era de quem estava morrendo.
- Tá estamos quites. Eu sou bailarina.
- Daqui de São Paulo mesmo? Paulistanos não costumam conversar com desconhecidos na rua.
- É, eu sei, mas eu me sinto muito só nessa cidade. Às vezes preciso conversar com alguém.
- Mora só, por sinal.
- É.
- Eu também.
- Isso é um convite?
- ...
- Ah, desculpa, desculpa.
- Não, não é isso. Eu sou gay.
- Ó Deus, não acredito. Tinha que ser tão legal e gay?
- A maioria é. Quer tomar um uísque lá em casa?
- E se você estiver mentindo? E se for um hetero fingindo ser gay pra me comer?
- Uma bailarina não deveria dizer "me comer", sabia?
- Um cara gay não devia convidar uma garota pra tomar uísque em sua casa assim, tão depressa.
- É, mas os homens estão em falta.
- ...
- Ah, vai, é brincadeira...
- Que você é gay?
- Não, que quero te comer.
- Ah..
- Mas você é mega linda e..
- Mega?
- Tá, agora você confirmou que eu sou gay.
- Sim, é né.
- Mas então. Eu até me senti atraído por você.
- E por que me contou que era..
- Sou.
- Que é gay?
- Força do hábito.
- Vamos comer lá em casa?
- Tá. Restaurante longe pra cacete.
- A estação é logo ali. Bom que você conhece minha gata, ela é
- Ah, você é lésbica?
- ...
- Mau humor, hein?
- Olheee, não vá me matar no caminho.
- Hey, você já olhou pro meu terno e pro meu tamanho? Mato baratas porque elas ficam rodando feito loucas e eu estou numa posição melhor.
- Odeio baratas. Nana come todas.
- Sua gata?
- É.
- Então tá, tem o que pra comer lá?
- Miojo, moro só.
- Ah...tudo bem. Tem disco da Gal?
- Ô se tem.