sexta-feira, 10 de julho de 2009

Uma história qualquer - parte 2

- Aí ele me disse ‘ah, não damos certo, o sexo é bom, mas não damos certo’.
- Como assim? Ai, sempre essa dicotomia “bom sexo, péssimo relacionamento”. Como é que pode?
- Sinto te dizer, Lau, acho que sexo não é a coisa mais importante em um relacionamento.
- Você só diz isso porque é gay.
- Como assim? Antes de gay, eu sou do sexo masculino, cheio de testosterona, ficando de pau duro involuntariamente. E EU estou dizendo que sexo não é a coisa mais importante.
- E ele terminou com você assim, dizendo essas bobagens e indo embora?
- Foi.
- Poxa...e como você está?
- Péssimo. Afim de encher a cara. Vamos?
- Ah, mas eu trabalho amanhã, Glau.
- ...
- Ta, ta, tá bom.

**********

- Que diabo de festa é essa?
- Eu te trouxe pra uma festa gay, Glauco.
- Eu não queria uma festa gay, eu queria uma festa, pra encher a cara. Sabe quais as chances de ele estar aqui?
- Oi Glauco! Já tá na night, né?
- Oi, Jeremias. Tô, me divertindo bastante, aliás.
- Você já superou a fase “Marcio” da sua vida?
- Quem?
- Até parece que você esqueceu do meu melhor amigo.
- Esqueci. Aliás, quem é você mesmo?
- Grosso. Vou contar pro Márcio que você está arrasada, sua bicha fresca.
- Tá, Jerê.
- NÃO ME CHAMA DE JERÊ, VIADA!

*******************

- Você sabe que ele odeia que chamem ele de Jerê, Glau. O ex dele usava esse apelido.
- Ele me provocou, Laura, ele me provocou.
- E agora você está de beiço inchado. Que lindo. Vai dizer o quê no trabalho amanhã?
- Que eu beijei muuuuito e que, numa noite de sexo animal, meu novo parceiro mordeu minha boca.
- Tá. Você não faz sexo há uns dois meses.
- Ninguém precisa saber disso! Dançarina da Rua Augusta.
- Advogado viado.
- Tá, estamos quites. Um uísque?
- Gal? Roberto?
- Topa ouvir Nara Leão? Preciso de Barquinho pra descansar.
- Eu vou dormir, desse jeito.
- E você, por acaso, acha que eu vou trepar com você?
- Nessas condições? Com esse pau pequeno?
- Vire a esquerda, por favor. Pau pequeno? Você nunca viu meu pau, Laura.
- Vi sim, você fazendo xixi quando estava bêbado, lá em casa.
- Eu não tenho pau pequeno. Quanto deu a corrida, moço?
- Vinte e cinco reais.
- Tem sim, Glau.
- Ah, não me ofenda, é médio, ó.
- O que é um pau médio?
- Aquele que não machuca nem faz cócegas, o ideal.
- Por falar em pau, você gosta de ser o que come ou o comido?
- Hmm...digamos que se eu e você transássemos, nós dois íamos ficar esperando.
- Ah, tá, entendi. Mas qual é a graça de tomar no cu?
- Pra mim toda, querida. Você não tem próstata, nem vai entender.
- É, talvez. Mas o pior é ter que aturar heteros querendo comer minha bunda. É uma merda isso, porque eu não vejo nenhuma graça, os caras acham uma delícia e eu só penso quando é que vai começar a sair merda de lá.
- Pra mulher deve ser chato mesmo.
- Eu tava pensando... o que você acha de eu transar com uma mulher?
- Não vejo graça não. Eca.
- Ahhh, me apresenta suas amigas lésbicas, apresenta?

******************************

- Boa noite, gente.
- Boa noite!
- Olha só, o Glauco vai se atrasar (como sempre). Então eu mesma me apresento.
- Você é a Laura, a melhor amiga dele. A gente te conhece só de ele falar tanto de você.
- Arh...obrigada.
- Eu sou Júlia, amiga do Glauco do trabalho.
- E eu a Hana.
- E eu a Maria.
- Ai, calma, eu não vou lembrar o nome de todo mundo.
- E então, Laura, você faz o quê da vida?
- Eu danço.
- Na Rua Augusta?
- Já vi de onde o Glauco tirou essa piada.
- Como é que consegue pagar as contas, vivendo de balé?
- É, Laura, eu, que trabalho como jornalista na Folha de São Paulo, não ganho o suficiente para viver bem.
- Você escreve o que na Folha, Hana?
- Obtuários.
- Ah.
- Mas como você ganha a vida além de dançando?
- Só danço mesmo. E me faço de puta com Glauco como meu cafetão, quando estou precisando de um extra.
- !!!
- Não são vocês os cheios de senso de humor?
- Erh...
- Oi gente!
- Oi Glauco, estávamos conhecendo sua nova amiga Laura. Peculiar, ela, hein?
- Peculiar?
- Perguntamos a ela como vocês se conheceram.
- Aff, vocês não perguntaram nada!
- Nós nos conhecemos no meio da São Bento, depois de eu ter tropeçado em uma pedra.
- Que lindo. E não transaram porque você é gay...

Gargalhadas.

- Foi, eu achei a Laura uma delícia, mas eu gosto de paus, e ela não tem um pau.
- Graças a Deus.
- Mas então Laura, você é o quê?
- Eu já disse, bailarina.
- Não, não, lésbica, hetero...
- Ah, eu sou lésbica, definitivamente.
- O quÊ?
- Não sabia, Glauco? Adoro xanas. Venero. Na verdade, tenho um altar cheio de xanas de plástico lá em casa...
- Ai meu santo....
- Adoro também peitos caídos. Como os seus, sabe, Hana? Amo peitos caídos. E quando eles parecem pelancas, hummmm...
- Já chega, já chega, Lau....
- Ué, elas perguntaram...

******************************

- Pra quê aprontou aquela cena, Lau? Não pediu pra que eu apresentasse umas mulheres?
- Não as chatas, não as chatas, Glau!
- Eu não tenho muitas opções, sabia? Não conheço muita gente.
- Você é muito anti-social, ó céus.
- Eu? Não, não. Só que a maioria das pessoas que estão ao meu redor no trabalho são insuportáveis.
- Notei.
- De volta pros paus?
- Não, erh, ah. .