Iconoclastia. Era essa a palavra que rondava a minha cabeça há séculos. O que estaria faltando na minha geração, uma raça de garotos e garotas impregnados de tatuagens, drogas e piercings? O que estaria faltando, para que, mesmo com toda a rebeldia aparente, ainda vivêssemos numa ditadura ridícula da beleza escultural, dos cabelos lisos, da falta de conhecimento, das músicas patéticas....
Acabei, hoje, de ler um livro de Carlos Calado sobre a Tropicália. Nossa, com certeza a história da tropicália ajudou muito a ampliar meu pensamento. Porque em mim cresceu uma pequena inveja de uma época em quê a juventude era tão envolvida com a cultura brasileira que pregava um certo purismo na música e praticamente exigia que os cantores da mpb ignorassem infuências externas ao Brasil. Não prego purismos, mas me passou pela cabeça que, ao menos, os jovens daquele momento preocupavam-se imensamente com as letras, a harmonia, os arranjos, preocupavam-se com a música brasileira.
Os tropicalistas chegaram aos Festivais para bagunçar a idéia de que "música brasileira tinha de ser assim" ou "pra ser mpbista você tem que tocar assado"...eles usavam o que queriam, se vestiam como queriam, tocavam e cantavam como quisessem. Causaram muita bagunça e, enfim, conseguiram modificar a estrutura da MPB da década de 60. Quebraram os preconceitos e as amarras da juventude extremamente politizada, mas limitada esteticamente.
E agora? Que tipo de ícone quebrar? Num século em que todas as barreiras visíveis foram derrubadas, restam os preconceitos velados. E as barreiras agora são virtuais: grande parte das pessoas prefere estar na frente de um computador que conversar com os amigos na rua. E trabalhar com música ficou bem mais difícil, afinal, a internet ajudou muito, mas dificultou a vida de quem não tem dinheiro para investir numa divulgação maior do que a que milhões de pessoas já fazem. Na internet você é só mais um.
O que seria ser iconoclasta, hoje? Se ser "rebelde" já está na moda? Se ser "underground" já é tão comum quanto ser comum?
À geração de hoje faltam desafios que não sejam os do "mercado de trabalho". Faltam, nesta geração, pessoas que não só se apresentem como diferentes.
Faltam tropicalistas.