sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Atrás do trio elétrico (parte final) - Uma noite no carnaval

Vou tentar me lembrar de tudo. O primeiro dia de carnaval na Barra é uma loucura. E não chega nem perto do que serão os outros dias. O legal é todo mundo estar fantasiado: você vê minnies, flinstones, diabos, batmans, coringas e até jesus andando na rua. As pessoas parecem enlouquecidas; fazem tudo o que não têm coragem de fazer em dias comuns. Conversam com desconhecidos, cantam e falam sozinhas, abraçam pessoas na rua, dançam sem música. Acho isso bem bonito. E acredito que se todos fizessem mais isso, seriam muito mais felizes.

Em uma noite, pude ver qual é o desespero das pessoas por carnaval. É que elas conseguem se libertar do pudor e da falta de coragem de revelar sentimentos que enfrentam no dia-a-dia. Vivem se escondendo e, ao chegar no carnaval, libertam-se.

E é por isso que o carnaval, para mim, não tem graça nenhuma.

Eu, normalmente, já não tenho muito pudor. E gosto de falar com desconhecidos; quando quero, vou lá e falo, pronto. E minhas roupas já são figurinos, fantasias (rs). Meus vestidos não são nada discretos. Enfim.

Um monte de gente suada, com sovacos suados e nojentos, rodando suas cervejas para cima. Ninguém conseguia andar: éramos empurrados para seguir adiante. Qual é o problema que as pessoas têm essa necessidade de permanecer num lugar com todo mundo se empurrando? Não dá. Se, cacete, eu quero me aproximar de alguém, eu me aproximo, porra! Precisa disso para tocar o outro? E eu também não consigo negar a realidade: enquanto uns se divertem, outros têm de empurrar a porra da corda (o que é uma burrice para um trio onde só precisa estar fantasiado para entrar) e puxá-la para frente, num trabalho quase desumano. Como as pessoas querem que não haja roubo, com tamanha desigualdade? Enquanto várias pessoas passam com suas cervejas pelas calçadas (que ficam completamente imundas no carnaval) e passam por cima dos que estão por lá sentados, pedindo dinheiro. Mesmo assim, para mim, sem dúvida, as três piores coisas do carnaval são:
  1. Ter o meu corpo arrastado pelos trocentos corpos emelecados de suor, enquanto os nossos pisoteados pés pisam numa mistura de lixo, xixi, vômito (em alguns casos) e lama;
  2. Ter de observar o monte de gente curtindo o carnaval enquanto um monte de cordeiros são esmagados para empurrarem a corda que separa os que pagaram (não no caso dos mascarados) dos que não pagaram. E os que não pagaram estão cada vez mais esmagados por camarotes e cordas;
  3. O axé. Eu achei que, por estar com os meus amigos, agüentaria. Mas não, não consigo. Não dá para pular, o meu consciente não permite. Arghhhhhhhh..."sou praiêrô, sou guerrêrôou, tô soltêrô, quero mais o quê-ê?" Você quer mais é calar a boca, desgraça chata do cacete.

Não dá. Aboli minha participação de carnavais. Se for pra ter muvuca, que seja a do Radiohead.

YÊAHHH.