Uma vez, uns anos atrás, escrevi um poema que falava muito sobre minha aflição naquele momento: o medo de cair na rotina, fosse no trabalho, fosse na vida mesmo. Medo de ser controlada pelas obrigações. Com o passar dos anos, fui superando meus traumas adolescentes, criando outros traumas, mas, acima de tudo, fui parando com a mania adolescente de auto-flagelação. De achar que devo sofrer, que tenho que encontrar 0 amor da minha vida, essas e outras baboseiras. Fui aprendendo, enfim, a ouvir desaforo, a ouvir críticas, a ser menos briguenta e a analisar as coisas antes de fazer. Uma vez alguém me disse que eu gostava de optar pelo lado mais fácil das coisas. E era verdade. Até pouco tempo.
Posso dizer que muita coisa mudou. Demandou tempo, lágrima, demandou que eu ouvisse verdades que escondia de mim com precisão. Amadurecer, enfim, é complicado. Hoje meu cabelo é o mesmo de quando eu tinha nove anos (na época em que escrevi o poema, tinha dado tanta porcaria nele que ele não cacheava mais), mas minha cabeça envelheceu. Eu endureci (não no sentido literal, peloamordedeus. A idade só amolece o corpo da gente, incrível. Especialmente se você é sedentária. ihihihih), mas nunca perdi, nem vou perder, o bom humor. A gente fica mais cética com o passar do tempo. Talvez seja o tempo mesmo o responsável por abrir nossos olhos, por mostrar a verdade - e parei de acreditar que existe uma verdade escondida aqui, alguém que irá nos salvar acolá...só nós salvamos a nós mesmos.
Talvez seja somente o fato de que, um dia, cansamos de fingir que somos o que não somos até para nós mesmos e partimos para o "sou isso e é isso mesmo".
No momento, sou mais cética, mais reflexiva, mais racional. E muito, mas muito mais feliz assim.