Passei a acordar cedo, a chegar no trabalho antes das oito. E isso se tornou algo normal para mim, nada demais. Meu cabelo mudou, aposentei um pouco os cachos. O modo como me visto também mudou. Mas nenhuma dessas mudanças aconteceu antes da revolução que se deu dentro de mim. Tudo o que eu acreditava ser - e não era - aglutinou-se à minha personalidade, como se eu, de repente, tivesse de fato os atributos que antes tentava esbanjar por aí e não tinha. A tal coragem para concluir os planos, enfrentar os problemas...ela está caminhando, finalmente crescendo. Porque eu me colocava como uma mulher corajosa e tinha medo de encarar a menor das dificuldades. A tal frieza para tomar decisões, para administrar minhas relações com amigos, com fretes, com família...tinha um modo muito desequilibrado de me relacionar com as pessoas.
Abri uma pasta no computador e vi uma foto minha com os cabelos cacheados. Alguma coisa aquela mulher tinha que eu não possuo mais. Havia uma certa crença no amor, na idéia de que havia amor em tudo...havia, eu diria, certa inocência, ingenuidade, talvez. Aquela mulher assistia as comédias românticas e acreditava em amores de filmes. Acreditava em amores repentinos, em histórias lindas. Chorava com muita facilidade, confiava plenamente nas pessoas que gostava. Aquela mulher tinha um coração gigante. Onde cabiam todos...até os que não conhecia. Sofria por eles, por aqueles que não podiam ajudar nem a si mesmos.
A mulher de hoje sente-se feliz...tirou um imenso fardo de suas costas. O da emoção excessiva. Tem dificuldade em chorar e não sente problemas com isso. Não acredita que finais felizes aconteçam com "principes encantados", apartamentos perfeitos com o amor para a vida toda, cachorros e estabilidade conjugal. Os melhores parceiros são os amigos e a família. Abocanhou a independência que nunca possuiu, não precisa mais dos romances para ser feliz. Sabe como aproveitar dos homens, conseguir o que quiser e abandoná-los quando for preciso. E tem coragem de abandoná-los. A mulher de hoje aprendeu, enfim, a dizer não. Não aos homens que usam a mulher como escape para seus problemas, aos homens machistas, que tratam a mulher como mais uma posse; à vida que reservaram para nós, mulheres, antes de nascermos: aquela que diz que casaremos, teremos filhos e viveremos para eles.
Vindo para o trabalho, estava dentro do ônibus e olhei pela janela: um conhecido sorriu. Eu disse o velho "quanto tempo!" e ele disse "nem te reconheci!".
Atualmente, nem eu me reconheço, beibe.