Eu sempre soube que cultura era um artigo de luxo. Quem "perdesse tempo" indo ao teatro era rico. Quem perde tempo indo ao teatro é, no mínimo, classe média. Acesso à cultura é coisa de gente que já dispõe de dinheiro para comer, se locomover e se vestir, no mínimo. Escolhi fazer jornalismo porque sou uma idiota que não tem o que fazer e não tem habilidades para salvar o mundo fazendo medicina.
Isso aqui é um desabafo. Estou com raiva, muita raiva porque agora eu sou ninguém. Dentro do meu trabalho, a minha situação é nada, é ridícula. O que faço sempre pode ser postergado, sempre pode ser feito depois. É só comunicação, é só um monte de cartaz ridículo, não tem nada se a gente não fizer mais porra nenhuma. É muito mais importante recuperar as instalações elétricas, poxa. Eu escolhi trabalhar com arte porque sou imbecil. E arte é uma coisa desnecessária nessa porra de país.
O pior é que me sinto uma criança descartável. Ninguém precisa me ouvir, porque há coisas mais importantes para resolver. Ninguém precisa discutir isso agora, não é necessário. Eu nunca vou ser considerada "alguém" a quem respeitar neste lugar. Quando eu estava doente e mal trabalhava direito, era considerada irresponsável. Agora, passados quase doze meses desde aquele período, eu sou, no mínimo, desimportante demais.
Qualquer coisa primeiro.
Então tá. Primeiro, pra mim, SP.