quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A graça dos dias que passam

Ele pegou o violão, eu não sabia que tocava tão bem. Com aquela voz aveludada e que soa tão bem aos meus ouvidos, começou a tocar "Minha Namorada", de Vinícius. Eu fiquei ali, atenta, para ter certeza de que estava naquele momento mesmo, de que estava, de fato, naquele lugar. Hipnotizada por ter sido surpreendida, pela primeira vez em muitos anos, de um jeito absolutamente encantador: eu não havia provocado nenhuma daquelas palavras, sugerido, nada. Ele simplesmente pegou o violão e foi, tocando, com a mesma precisão com que toca a minha cintura. Não sei o que eu senti naquela hora. Não foi vontade de chorar, como normalmente eu sentiria, mas uma vontade louca de dar um loop naquele momento. Eu estava exatamente onde deveria estar.
Não, eu soube esperar sim. Não quis apressar as coisas, não quis fazer como sempre faço e assumir a postura de uma mulher que toma a frente da situação.
Ontem, ele enfim, tímido, me disse:
- Sinto que você é a minha namorada desde que toquei aquela música para você. Eu toquei aquela música para isso, para te pedir em namoro.
Como nos velhos tempos, em que os homens eram minimamente...românticos.
E lá vou eu, de novo. Posso continuar eu mesma, dessa vez deixei bem claro que sou independente e pronto, que sou assim, não vou mudar.

Lá vou eu, meter-me num emaranhado de novos sentimentos. Com alguém que, em um mês, transformou-me em Dalila.