sexta-feira, 26 de junho de 2009

Geração Cocô.

Ontem fui assistir Loki, uma biografia de Arnaldo Baptista. Enquanto mergulhava no universo dos Festivais da década de 1960, nos shows dos Mutantes e na vida deles, acabei mergulhando também em uma outra atmosfera. Eu não estava lá, eu não vivi nada daquilo: não fui ao festival de 67, onde Gil tocou pela primeira vez "Domingo no Parque" e apresentou os Mutantes ao mundo. Não vi os Mutantes cantarem Panis et Circenses ao vivo, com a Rita Lee com um coraçãozinho abaixo do olho.


Não vi nada daquilo acontecer, a não ser pelos vídeos mal filmados do you tube.
Saí de lá levemente nostálgica. Engraçado...como posso ter nostalgia se não vivi nada daquilo?


Saí com a sensação de que a minha geração é uma bosta. A geração que não liga pra política, caga a música, tentando ser diferente, posando de diferente. A minha geração preocupa-se muito mais com o corte de cabelo que faz e com a cor do all star que usa que com o que fazer pra mudar alguma coisa.


A minha geração preocupa-se mais com o cigarro pra posar de alternativa que com o pensar diferente. Uma fábrica de gente sem graça, com o cigarro na boca, perguntando porque você não fuma maconha ou usa LSD, que quer aparecer e nem mesmo se preocupa com o outro. Que merda de gente é essa que faz questão de gravar nomes de diretores de filmes e esquece de prestar atenção nas pessoas ao redor?


Sinto saudade de uma época que não vivi. Talvez os doidos fossem a minoria, a minoria que aparecia na TV. Mas sabe? Estamos todos desnorteados. Os jovens cantores enloquecem cedo (é, porque Amy Winehouse, antes de ficar famosa já estava doida), as bandas são cheias de posers tatuados que, na verdade, não sabem nem o que estão fazendo.


Volta e meia eu penso no que fazer agora, já que, na verdade, a solução não é uma questão de inovar. Acho que é parar de tentar inovar. Parar de tentar ser diferente. Acho que minha vida ficou muito melhor depois que eu parei de fingir que não gostava de coisas comuns, como novela e BBB, só pra dizer que era alternativa. O melhor presente que eu dei para mim mesma foi ser só eu, não uma conjunção de elementos televisivos que indicam que uma pessoa é radical ou diferente.


A minha geração QUER ser mutante. E, na verdade, é elenco da Turma do Didi. QUER inovar na música. E joga para o mundo um monte de gente que só faz usar drogas, beber e posar de cult, até que some, para que uma outra celebridade faça a mesma coisa e suma. As mulheres da minha geração são tão independentes quanto a mulher melão. Tão cheias de opinião quanto as coelhinhas da playboy. Tão musicais, diferentes, feministas...são todas, logo, não é nenhuma. Ninguém é diferente, afinal. Todos são coloridos e tem cortes de cabelos espetaculares no meio da avenida paulista. Diferente mesmo é o que não está tão diferente assim.


Todas as bandas de rock tem homenzinhos com as unhas pintadas de preto. Tatuados até seus paus. Bêbados, fazendo propaganda de tênis. Todos iguais. Todos em seus carros, cada um com um. E dentro dos carros, ar condicionado, para que fechem as janelas, sons de bandas de rock clichê ou de cantoras "alternativas" de emepebê. Ninguém olhando pro lado.


Piada é ver como todo mundo se acha independente. Morando na casa dos pais depois dos 30, saindo só pra casar, engravidando aos 20, usando alianças do tamanho dos próprios dedos.
Faço mesmo questão de manter meu sotaque baiano, de não saber nome de porra nenhuma do meio cult. Gosto do que gosto, não do que tenho que gostar por ser jornalista. E mesmo que me digam que o fato de eu não servir ao estereótipo "alternativo" que obrigamos uns aos outros a ter faça de mim uma "doidinha", "infantil", para isso, eu não digo nem "foda-se".
Gosto de pensar como o amigo do Arnaldo Baptista disse no filme. Ele disse que o Arnaldo tem parafusos soltos e isso é bom. Porque parafusos muito apertados arruinam a engrenagem. Tenho os meus parafusos soltos, me orgulho disso. E ponto. Nem a São Paulo mais cinza do mundo tira isso de mim.
E uma outra certeza: cada vez mais faço menos questão de pertencer a um grupo. Seja ele o grupo dos que usam all star, o grupo dos jornalistas cult, o grupo dos revolucionários alternativos ou mesmo o grupo dos que não sabem o nome do grupo. Vou desenhando....em telas, em qualquer coisa que me faça feliz.