Ontem fui ao último debate com os candidatos à prefeitura de Salvador antes das eleições. Coisa bem glamour...um caos se instalou na frente da TV Itapoan (Record, para os mais íntimos): pessoas com bandeiras, balões, carros de som de todos os canditatos faziam a barulhada que reinava junto com a tensão da espera dos candidatos. O primeiro que chegou foi Imbassahy (PSDB), com sua esposa. Uma renca de urubus (digo, jornalistas) pousou em cima do candidato, que, cheio de blush, respondeu à perguntas de diversos tipos. O vice de ACM Neto, Marcio Marinho (PR), havia chegado no mesmo momento que o candidato a prefeito....pobre homem. Andava lentamente, em busca dos repórteres que nunca chegavam. Coisas dos critérios de noticiabilidade.
ACM Neto (DEM) veio logo depois, com sua cabeça imensa devidamente maquiada e, ah, duas espinhas. Monossilábico, fugiu da maioria das perguntas ( o que não impediria que o abordássemos novamente no fim do debate) e subiu em direção à TV. O atual prefeito, João Henrique (PDT...digo...PMDB) chegou com uma quantidade incrível de pancake. Alguns disseram que ele tinha feito bronzeamento artificial, outros, que ele tinha se maquiado demais. Fato é que ele estava marrom e que, pasmem, teve a audácia de dizer, quando perguntaram a ele se ele se atrasava para seus compromissos em Salvador por causa do trânsito, que NUNCA havia se atrasado. Só em São Paulo. João Henrique deve andar de helicóptero, porque aqui, até as ambulâncias se atrasam.
Walter Pinheiro (PT) e Hilton Coelho (PSOL..eu quero Hiiilton 50..lálálálálálálá lá...Sal-va-dooorr) foram os últimos a chegar. Pinheiro, num gesto suuuper Getúlio Vargas, entrou a pé, para enlouquecer os já enlouquecidos bandeirinhas que estavam lá na porta. Porra, fazem lavagem cerebral naquele povo. E Hilton chegou num Fox vermelho. Chique.
É bom não entrar em detalhes do debate aqui porque, afinal, é possível saber o que esperar quando temos algumas pessoas de histórico sujo (Imbassahy por exemplo, pessoinha cínica) e um inexperiente Hilton, que, ignorado (ou tratado como um personagem caricatural), só respondia perguntas quando não havia mais jeito para os outros candidatos fazerem perguntas uns aos outros. É revoltante notar que há um descaso com o eleitor e uma aparente preocupação com o jogo político, quando o eleitor é o personagem principal do processo.
Se fossemos cientes de que a parte mais importante dessa eleição (e de todas) não é quem se elege, mas quem vota, teríamos um pensamento muito mais crítico acerca das candidaturas nojentas de alguns políticos (como Maluf, em São Paulo e Imbassahy, aqui) e talvez, as campanhas eleitorais bem feitas não fossem suficientes para nos enganarmos. Enquanto estive no estúdio, tratei de observar o olhar dos candidatos quando não estavam sendo filmados. ACM Neto tinha o hábito de voltar os olhos para a platéia constantemente, talvez observando o que as pessoas ali achavam de suas propostas mirabolantes. João Henrique, com a cara marrom, mantinha-se empostado, empinado com as mãos juntas, talvez tentando parecer "muito mais forte"; Pinheiro parecia político de filme trash, sorrindo um sorriso falso e com as mãos na bancada todo o tempo. Só Hilton parecia não fazer firoula...tinha noção de que, daquele teatro, não estava fazendo parte.
Eu me enchi de revolta e, ao mesmo tempo, me senti defasada por não ter participado da "coisa política" há mais tempo, de ter me permitido parar , pelo conforto de estar bem onde estou e pela idéia de segurança que eu não devia buscar aos 22. Também me senti lesada, porque sei que os principais candidatos à prefeitura não estão preocupados, de fato, com a população da cidade que irão governar. Estão interessados no jogo, no ganhar, na disputa. No jogo político que vicia, porque envolve ego, estratégia, persuasão....e dinheiro.