quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Cicatriz

Ando emagrecendo bastante. Isso acontece porque não tenho tido apreço pela comida, então como cada vez menos. É uma questão de desistência quase, de falta de ânimo para alguma coisa que não seja desenhar.
Não sinto nada.
Não sinto dor, não sinto pena, não sofro, não choro, quase nem lembro de nada. É estranho até para os meus limites. Não sinto nada. Claro, estou bem assim, mas ainda estranho. Acho que a vontade de comer foi embora com as minhas emoções. Acho que depois de ter sentido tudo de uma vez, no fim de semana depois de eu ter sido pega de surpresa, eu não tive mais nenhuma emoção para compartilhar. Desde então, vivo a vida como se jamais tivesse tido aquele relacionamento. Não porque forço isso, mas porque meu corpo e minha mente expurgaram sinais de que algum dia eu fui bastante apaixonada. E foi de vez, não foi progressivo. Um dia eu não sentia mas nada, nem mesmo sabia como explicar porque. Nem mesmo raiva. Nada. Só vontade de abraçar todo mundo (rs), pela felicidade de, enfim, voltar ao controle de mim, a felicidade de saber que o meu sofrimento durara inacreditáveis...seis dias. Seis dias e bum, eu não sentia mais nada. E eu não precisei viajar, não precisei colar em alguém. Simplesmente estava lá, leve.
O mais louco é que me sinto tão leve que, de algum modo, não sinto mais a necessidade de comer. Eu como, óbvio, sinto fome. Mas não a fome desesperada que sentia a alguns meses atrás, a vontade de comer o tempo todo. Estou, de novo, em paz comigo. Uma paz que não sentia há tanto tempo que nem sei mensurar.
Não sei a quem agradeço. Se a minha orixá, Iansã, se ao Deus católico, sei lá. Sei que alguém, muito amigo, esteve comigo e realizou esta loucura que eu duvidava que fosse possível. Ou talvez seja uma coisa de dentro de mim mesmo, um botão que nem mesmo eu sabia que existia. E ele foi acionado no momento em que eu disse "ok. chega."
Eu tinha pensado em levar adiante um sentimento que desenvolvi por um grande amigo, mas acho que a hora agora é de ficar sozinha. Relacionamentos dão muito trabalho. Eu preciso, agora, curtir a minha presença, eu comigo mesma. É bom né, para uma pessoa que passou a vida seduzindo e sendo seduzida. Tá bom, por agora, porque férias são sempre bem vindas.
E não há sensação mais libertadora nesse mundo que a de não estar apaixonada, amando ou devendo amor a ninguém.