- Como você vai se sustentar?
- Já tem apartamento?
- Vocês vão fazer como lá?
- Já tem dinheiro?
- Vai levar o quê?
-Como vai comprar as coisas?
E finalmente:
- O que você escolheu pra fazer lá não tinha aqui?
ARGH! Que Saco! Mas esse é só o modo brasileiro de viver: todo mundo metendo o bedelho na vida de todo mundo. Mas uma coisa eu posso responder: por que lá e não aqui.
Sampa não é melhor que Salvador. Tá, tem o metrô, mas isso é o de menos. Eu estou indo primeiro porque preciso me dedicar a alguma coisa maior do que a dúvida entre estar solteira ou não; nesse caso, o desenho. Segundo, porque preciso de minha independência, das minhas decisões, não de um monte de gente me dizendo pra acordar cedo, arrumar a casa e seguir as regras de todo mundo, menos as minhas. Já estou velha para algumas coisas; entre elas, ter que dizer que horas eu volto pra casa e por quê; ter que dar satisfações de por quê meu quarto não está arrumado ou por quê eu prefiro gatos. Aliás, essa coisa de gatos me dá uma agonia...eu gosto de gatos porque eles estão com você, mas não morrerão sem você. Estão lá pela comida fácil, pelo carinho, mas podem ir pra rua ou ficar quietos num canto. Cachorros precisam sempre chamar atenção.
Meu irmão, por exemplo: é do tipo cachorro. Adora chamar atenção pra ele, quer que tudo seja do jeito dele, que tudo seja dele, mais precisamente; o maior quarto, o maior salário, o melhor PC. Eu gosto de ter meu canto, um bom lugar pra trabalhar, dinheiro suficiente pra viver, muitos livros e poucas coisas. E só. Mas gosto de correr atrás dessas coisas. E é por isso que estou indo, largando emprego, casa arrumadinha, tudo o que me deixava segura aqui.
Deixa que a minha segurança eu mesma construo agora.
Eu. Minhas regras. Meus horários de fim de semana, meus horários pra chegar em casa. Meus livros, meu canto.
Minha gatinha Valentina...sua caixinha de areia, ração...
Entendeu agora?